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Por que todos os recém-nascidos no Brasil recebem vacinas que muitos países ricos não aplicam?

Vacina | O Brasil adota um protocolo de vacinação neonatal universal, incluindo BCG e hepatite B, pouco comum em nações desenvolvidas.
Por que todos os recém-nascidos no Brasil recebem vacinas que muitos países ricos não aplicam?

No Brasil, todos os recém-nascidos recebem uma série de vacinas logo após o nascimento. Mas por que algumas vacinas obrigatórias aqui são dispensadas em outros países desenvolvidos? O Brasil vacina todos os recém-nascidos contra a hepatite B, enquanto a maioria das nações ricas visa apenas bebês de alto risco com base em fatores maternos. 

Com as infecções agora extremamente raras em bebês, mais especialistas questionam se as injeções universais do primeiro dia são necessárias. Este artigo investiga a história, os dados científicos, debates internacionais e os impactos dessa política no país.

Desde 1976, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) garante que todos os recém-nascidos brasileiros recebam vacinas essenciais logo após o nascimento, como BCG (tuberculose) e hepatite B.

Enquanto essa política é celebrada por reduzir doenças graves, países como Reino Unido, Alemanha, França e Japão seguem estratégias mais seletivas, vacinando apenas grupos de risco ou retardando algumas vacinas. A diferença levanta questões: estamos protegendo ou expondo nossos filhos a riscos desnecessários? E por que políticas internacionais divergem tanto?

O contexto histórico da vacinação neonatal no Brasil

O Brasil sempre enfrentou altas taxas de tuberculose e hepatite B em décadas passadas. A BCG tornou-se obrigatória em 1976, após estudos mostrarem que reduzia significativamente casos graves de tuberculose em crianças. A vacinação contra hepatite B, introduzida na década de 1990, visava principalmente prevenir a transmissão vertical (mãe-filho), prática considerada essencial em países com alta prevalência da doença (Ministério da Saúde, 2024).

Comparação internacional: Brasil x países de alta renda

Em países como Reino Unido, Canadá e Alemanha, a vacinação contra tuberculose não é universal. O NHS, por exemplo, recomenda BCG apenas para recém-nascidos em áreas de risco ou com histórico familiar (NHS, 2025). O mesmo ocorre com a hepatite B, aplicada apenas em grupos específicos (GOV.UK, 2025). A lógica desses países é que a baixa incidência das doenças torna a vacinação universal desnecessária e, em alguns casos, expõe a população a efeitos adversos mínimos porém evitáveis.

Os dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) mostram que, em 2018, os casos agudos de HBV em crianças e adolescentes dos EUA atingiram mínimos históricos. E à medida que as coortes vacinadas com a dose de nascimento envelhecem até a idade adulta, suas taxas de HBV permanecem muito mais baixas do que as gerações anteriores - sugerindo um impacto durável no nível da população.

Dados científicos e eficácia

No Brasil, a cobertura vacinal neonatal é alta. O PNI informa que mais de 95% dos recém-nascidos recebem a BCG e a primeira dose de hepatite B (Ministério da Saúde, 2024). Estudos nacionais confirmam que a BCG reduz formas graves de tuberculose em crianças, incluindo tuberculose miliar e meningite. Para hepatite B, a vacinação neonatal reduziu drasticamente a transmissão vertical, refletindo em quedas significativas de casos pediátricos.

Debates e riscos

Apesar dos benefícios, especialistas questionam a necessidade de vacinar universalmente em países de baixa prevalência de algumas doenças. Tendências comportamentais vs. impacto da vacina. Os críticos argumentam que o declínio do HBV pediátrico não se deve apenas à vacinação. A melhoria da triagem, dos cuidados maternos e a menor prevalência do HBV em mulheres grávidas também podem desempenhar papéis importantes. Nesta visão, uma abordagem direcionada pode agora ser suficiente.

De fato, muitos países desenvolvidos - incluindo Reino Unido, Alemanha e Canadá - não exigem uma dose universal ao nascimento. Eles começam a vacinação contra o HBV mais tarde na infância (com 6-8 semanas) e reservam a dose de nascimento para bebês de mães infectadas conhecidamente.

Essas nações alcançaram um excelente controle do HBV sem vacinar todos os recém-nascidos no primeiro dia. Argumentos críticos incluem:

  • Risco de efeitos adversos raros, como reação local ou febre.
  • Possível interferência com imunidade natural quando aplicada indiscriminadamente.
  • Custos financeiros e logísticos que poderiam ser direcionados para vacinação seletiva baseada em risco.

Esses debates evidenciam a complexidade de políticas de saúde pública: proteger a população versus exposição a riscos evitáveis.

Segurança e escolha dos pais

Alguns pais se preocupam em dar uma vacina no primeiro dia de vida, especialmente quando não há exposição conhecida. As preocupações incluem imaturidade do sistema imunológico do recém-nascido, possíveis efeitos colaterais e exposição a ingredientes de vacinas como o alumínio.

No entanto, as vacinas contra hepatite B geralmente têm um forte histórico de segurança, com centenas de milhões de doses de recém-nascidos administradas globalmente. Os efeitos colaterais mais comuns são leves e transitórios. Eventos adversos graves são extremamente raros.

No entanto, incidentes raros, mas reais, ocorrem. E os críticos argumentam que a dose de nascimento deve ser opcional em casos de baixo risco. Os defensores argumentam que a administração universal antes da alta hospitalar garante proteção para todas as crianças, independentemente do acesso dos pais aos cuidados de acompanhamento.

Mas esse é o caminho certo em uma era de personalização?

Política, interesses e transparência

Alguns pesquisadores brasileiros sugerem que a manutenção de protocolos universais pode ter raízes em decisões políticas, pressões institucionais e interesse de indústrias farmacêuticas (Revista Brasileira de Epidemiologia, 2021). A falta de debate público aprofundado sobre risco-benefício e alternativas de vacinação neonatal levanta questões sobre transparência e autonomia dos pais.

Reflexões críticas

O Brasil segue uma abordagem preventiva agressiva, salvando vidas e reduzindo a incidência de doenças graves. Porém, a comparação internacional evidencia que políticas de vacinação universal podem não ser a única solução. Países ricos demonstram que estratégias seletivas, baseadas em risco epidemiológico, podem ser eficazes sem expor todos os recém-nascidos a vacinas potencialmente desnecessárias.

Conclusão

A vacinação neonatal no Brasil é uma conquista da saúde pública, mas não está isenta de críticas. Reflexão baseada em dados internacionais, estudos científicos e debates éticos é essencial para aprimorar políticas futuras. Transparência, acompanhamento epidemiológico e ajustes baseados em risco podem equilibrar proteção e segurança, garantindo o melhor para cada recém-nascido.

Fontes e referências:

Dica de leitura complementar: Livros sobre vacinação infantil na Amazon Brasil

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