País da África Ocidental rejeita mosquitos transgênicos: população diz “não” a experimento de Bill Gates

A suspensão do projeto pode ser vista como um recado claro: a vida das populações africanas não deve ser colocada em jogo em nome de experimentos

País da África Ocidental rejeita mosquitos transgênicos: população diz “não” a experimento de Bill Gates

Em meio às promessas de uma solução tecnológica para erradicar a malária, um dos países mais afetados pela doença decidiu traçar um limite. No dia 23 de agosto de 2025, o governo de Burkina Faso ordenou a suspensão imediata do projeto Target Malaria, uma iniciativa financiada pela Fundação Bill e Melinda Gates, que pretendia liberar mosquitos geneticamente modificados para conter a transmissão da malária.

A decisão não veio do nada. Ela foi motivada por uma mistura de desconfiança popular, pressões de organizações da sociedade civil e um contexto político marcado pelo afastamento do país em relação ao Ocidente. Enquanto vemos tais projetos sendo banidos, o Brasil segue realizando esse tipo de experimento sem o consentimento informado da população. Isso já deu errado antes!

O projeto: ciência ou experimento arriscado?


O Target Malaria foi lançado em Burkina Faso em 2012, em parceria com o Imperial College London. Seu objetivo era aparentemente simples: usar a modificação genética para reduzir populações de mosquitos transmissores da malária. Em 2019, o país chegou a ser o primeiro da África a liberar mosquitos transgênicos na natureza.

Esses insetos eram projetados para produzir predominantemente descendentes machos, diminuindo a população com o passar do tempo. Uma tecnologia inédita, mas também carregada de riscos desconhecidos.

Apesar de ter recebido o aval de órgãos reguladores nacionais e de comitês de ética, a iniciativa não conquistou a confiança da população. Muitos burquinenses enxergaram no projeto um experimento perigoso, financiado por estrangeiros e com resultados imprevisíveis para a saúde humana e para os ecossistemas.

Críticas: riscos, ética e neocolonialismo científico


Entre os opositores está Ali Tapsoba, da Coalizão para o Monitoramento de Atividades Biotecnológicas em Burkina Faso (CVAB), que resume a preocupação:

“A tecnologia é altamente controversa, imprevisível e levanta preocupações éticas. Os impactos dos organismos geneticamente modificados na saúde e nos ecossistemas permanecem desconhecidos e potencialmente irreversíveis.”


Outro ponto central das críticas é a percepção de neocolonialismo científico. Para muitos, o fato de os mosquitos terem sido criados em laboratórios na Europa levanta dúvidas: por que esses experimentos não são feitos em países ocidentais, mas sim em territórios africanos?

A decisão política


Desde o golpe de 2022, o governo militar de Burkina Faso, liderado por Ibrahim Traoré, tem se afastado do Ocidente e se aproximado de parceiros como Rússia e Irã. Nesse cenário, projetos ligados a filantropos bilionários como Bill Gates passaram a ser vistos com ainda mais desconfiança.

A ordem de suspender o Target Malaria e destruir todos os mosquitos transgênicos é também um gesto político de soberania, mostrando que o país não aceita ser laboratório de testes de grandes corporações e fundações internacionais.

Um revés para a biotecnologia — e uma vitória da resistência local


Do ponto de vista da ciência oficial, essa decisão representa um revés significativo nas estratégias genéticas para controlar a malária, uma doença que ainda mata mais de 600 mil pessoas por ano, principalmente na África.

Mas, do ponto de vista das comunidades locais e de ativistas críticos, o que aconteceu em Burkina Faso é uma vitória popular: uma demonstração de que o direito à vida, à natureza e à autodeterminação está acima de interesses corporativos travestidos de filantropia.

Reações e implicações internacionais


A decisão de suspender o projeto Target Malaria em Burkina Faso repercutiu internacionalmente, particularmente entre os envolvidos nos esforços globais de saúde e biotecnologia. A Fundação Bill e Melinda Gates, que não respondeu imediatamente a um pedido de comentário, está envolvida em controvérsias sobre algumas de suas iniciativas, com grupos de defesa acusando-a de promover culturas geneticamente modificadas e modelos de agricultura industrial que beneficiam grandes corporações enquanto marginalizam os pequenos agricultores.

À medida que Burkina Faso reafirma sua soberania sanitária, a decisão levanta questões críticas sobre as verdadeiras motivações por trás de tais soluções biotecnológicas. O envolvimento de figuras como Bill Gates, que têm participações financeiras significativas nessas tecnologias, alimenta ainda mais as suspeitas.

Embora a fundação de Gates afirme promover os resultados globais de saúde, o potencial dessas tecnologias para enriquecer os desenvolvedores às custas das comunidades que atendem não pode ser negligenciado. Esta decisão é um apelo por abordagens mais transparentes e lideradas pela comunidade para a saúde pública, garantindo que os interesses dos mais vulneráveis não sejam deixados de lado em nome do progresso.

Reflexão final


O caso de Burkina Faso deixa uma pergunta no ar: até que ponto as promessas da ciência moderna justificam transformações irreversíveis na natureza e nos ecossistemas?

Se a malária continua sendo uma tragédia sanitária, não seria mais justo investir em infraestrutura de saúde, saneamento básico e acesso a tratamentos seguros, em vez de apostar em tecnologias de risco que podem transformar todo um continente em laboratório?

A suspensão do projeto pode ser vista como um recado claro: a vida das populações africanas não deve ser colocada em jogo em nome de experimentos globais.

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