O diabetes gestacional (DMG), condição que afeta milhões de mulheres no mundo durante a gravidez, vem chamando a atenção da comunidade científica por estar associado a impactos duradouros na saúde tanto da mãe quanto do bebê. É uma tendência impulsionada pelas mesmas forças por trás da epidemia mais ampla de diabetes, incluindo idade materna mais avançada e aumento das taxas de obesidade.
À medida que mais mulheres engravidam com esses fatores de risco, seus corpos lutam para gerenciar o aumento da insulina necessária durante a gravidez, o que traz implicações duradouras para a saúde da mãe e da criança.
Pesquisas recentes da Austrália e de Cingapura, divulgadas durante a Reunião Anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD), em Viena, apontaram que mulheres com altos níveis de açúcar no sangue durante a gestação não apenas apresentaram queda em testes cognitivos, como também deram à luz crianças mais vulneráveis a atrasos no desenvolvimento, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e até transtorno do espectro autista (TEA).
A revisão sistemática incluiu dados de mais de 9 milhões de gestações em todo o mundo e revelou resultados preocupantes:
Filhos de mães com diabetes gestacional tiveram em média QI quatro pontos mais baixo em comparação com crianças não expostas.
A inteligência verbal cristalizada também foi prejudicada, resultando em vocabulário reduzido e dificuldades de raciocínio verbal.
Essas crianças apresentaram um risco 45% maior de atrasos no desenvolvimento e eram 36% mais propensas a receber diagnóstico de TDAH.
O risco de autismo foi estimado em até 56% maior em comparação com filhos de mães sem DMG.
Segundo os pesquisadores, os efeitos podem ser explicados por processos como inflamação, estresse celular, resistência à insulina, suprimento reduzido de oxigênio e alterações metabólicas no útero. Esses fatores afetam a formação cerebral ainda no período fetal, deixando marcas que podem se manifestar ao longo da vida da criança.
Por que o diabetes gestacional está aumentando?
O crescimento da condição está diretamente ligado ao aumento da obesidade, ao envelhecimento materno (mulheres engravidando mais tarde) e à predisposição genética. De acordo com dados do CDC (EUA), entre 2016 e 2021 houve um salto significativo no número de grávidas diagnosticadas, refletindo os mesmos fatores por trás da epidemia global de diabetes tipo 2.
Como a condição é diagnosticada e controlada
O DMG costuma surgir no segundo ou terceiro trimestre da gestação e muitas vezes não apresenta sintomas perceptíveis, sendo considerado um “risco silencioso”. Por isso, exames de rotina são fundamentais.
O teste mais utilizado é o “desafio de glicose”, realizado entre a 24ª e 28ª semana de gravidez. Caso os níveis de açúcar no sangue estejam elevados, um exame confirmatório é feito para diagnosticar a condição.
Embora o diabetes gestacional geralmente desapareça após o parto, seu impacto pode ser profundo se não for tratado. A boa notícia é que ele pode ser controlado com acompanhamento médico, dieta equilibrada e prática de atividade física adaptada à gestação.
Quem tem mais risco?
Alguns fatores aumentam a chance de desenvolver a condição:
Histórico de DMG em gravidez anterior.
Ter dado à luz um bebê com mais de 4 kg.
Estar acima do peso.
Histórico familiar de diabetes tipo 2.
Síndrome dos ovários policísticos (SOP).
Origem étnica: mulheres afrodescendentes, hispânicas, indígenas, nativas do Alasca, havaianas ou das ilhas do Pacífico apresentam maior predisposição.
Um alerta para mães e profissionais de saúde
O Dr. Ling-Jun Li, professor da Universidade Nacional de Cingapura e autor principal do estudo, reforçou:
“Há preocupações crescentes sobre os efeitos neurotóxicos do diabetes gestacional no cérebro em desenvolvimento. Nossas descobertas ressaltam a urgência de abordar essa preocupação significativa de saúde pública”.
Esse novo conjunto de evidências reforça que o cuidado pré-natal deve ir além do acompanhamento convencional: identificar e controlar o diabetes gestacional não apenas protege a mãe, mas pode ser decisivo para garantir um futuro mais saudável para a criança.
🔔 Assine nossa newsletter e receba conteúdos exclusivos
Atualizações sobre saúde, bem-estar e descobertas científicas que não estão na grande mídia — direto no seu WhatsApp, Telegram ou e-mail.
Este blog usa cookies e outros serviços para melhorar sua experiência, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao usar nosso site, você concorda com nossa Política de Privacidade e Termos de Uso.
0 Comentários
Coletividade Evolutiva abre espaço para o diálogo consciente. Sua perspectiva é valiosa. Compartilhe reflexões, ideias e experiências com respeito e profundidade. Juntos, construímos um espaço de troca verdadeira, onde o conhecimento evolui com ética, clareza e propósito.