Por mais contraditório que pareça, uma das apostas no combate a doenças supostamente causadas pelo Aedes aegypti [falta comprovação e transparência robusta sobre isso] – dengue, zika e chikungunya – é “fabricar” mais mosquitos. Nesse contexto é que foi inaugurada uma nova biofábrica da Oxitec em Campinas (SP), com capacidade para produzir 190 milhões de mosquitos Aedes aegypti por semana. Essa criação em larga escala é de mosquitos modificados geneticamente em laboratório para supostamente barrar, de duas diferentes maneiras, a disseminação do vírus.
A biofábrica tem como objetivo produzir 190 milhões de mosquitos geneticamente modificados por semana. Esses insetos são projetados para supostamente combater doenças como dengue, zika e chikungunya, transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. A estratégia envolve liberar esses mosquitos modificados no ambiente sem o consentimento do público, para que se na teoria, reproduzam com os mosquitos locais naturais, reduzindo assim a população do vetor e a transmissão das doenças.
Para começar de vez a produção, a empresa aguarda liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Procurada pela Dinheiro Rural, a Anvisa afirmou que ainda não há previsão para a liberação e que o processo da empresa será tratado com a prioridade necessária, “em conformidade com as necessidades do cenário epidemiológico brasileiro”.
“Considerando que ainda não existe regulamentação sobre a matéria, a Anvisa irá considerar as evidências técnicas disponíveis e avaliar o pleito de forma alinhada às diretrizes do Programa Nacional de Controle das Arboviroses do Ministério da Saúde”, explicou a autarquia.
Em julho, o Ministério da Saúde também inaugurou uma biofábrica para a produção de mosquitos infectados com Wolbachia em Curitiba (PR), por meio de uma parceria com a Fiocruz, a Wolbito do Brasil, o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e o World Mosquito Program (WMP). A biofábrica paranaense tem uma produção que alcança 100 milhões de ovos por semana.
Entre 2011 e 2015, os moradores do distrito de Pedra Branca, em Jacobina, Bahia, foram expostos a uma experiência em campo aberto. A empresa britânica Oxitec, em parceria com a organização social Moscamed e a Secretaria Municipal de Saúde, liberou milhares de mosquitos Aedes aegypti geneticamente modificados (AGM) no ambiente.
A experiência não saiu como esperado:
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Riscos e preocupações
1. Impacto ambiental desconhecido
A liberação em larga escala de organismos geneticamente modificados no meio ambiente levanta sérias questões sobre os possíveis efeitos ecológicos. Alterações no equilíbrio dos ecossistemas podem ocorrer, afetando outras espécies e processos naturais.
2. Falta de estudos independentes
A maioria dos estudos sobre a eficácia e segurança dos mosquitos geneticamente modificados foi conduzida ou financiada pela própria Oxitec ou por entidades com interesses na tecnologia e Bill Gates. Há uma necessidade urgente de pesquisas independentes e transparentes para avaliar os reais impactos dessa abordagem.
3. Questões éticas
A liberação de organismos geneticamente modificados no meio ambiente sem o consentimento explícito da população local levanta questões éticas sobre o direito das pessoas de decidir sobre intervenções biotecnológicas em seus ecossistemas.
Alternativas mais seguras e sustentáveis
Em vez de recorrer a soluções biotecnológicas com riscos desconhecidos, é fundamental investir em estratégias comprovadas e sustentáveis para o controle do Aedes aegypti:
Educação e conscientização comunitária: Programas educativos que envolvem a comunidade na eliminação de criadouros de mosquitos têm se mostrado eficazes.
Uso de repelentes naturais: Incentivar o uso de repelentes à base de citronela e outros compostos naturais pode reduzir a exposição às picadas de mosquito.
Melhorias na infraestrutura urbana: Investir em saneamento básico e no tratamento adequado de águas residuais pode diminuir os locais de reprodução do mosquito.
🧠 Reflexão final
Enquanto a mídia oficial e os órgãos de saúde destacam a promessa de reduzir doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, a realidade nas cidades é muito mais complexa e preocupante. Mosquitos geneticamente modificados vêm sendo liberados em diversos pontos das capitais há meses, ou até anos, sem que haja uma comunicação clara sobre quem está sendo monitorado, quais resultados estão sendo obtidos e quais riscos ainda existem.
A introdução de mosquitos geneticamente modificados em larga escala em Campinas é uma medida drástica que deve ser cuidadosamente avaliada. É essencial que a sociedade, por meio de seus representantes e instituições, exija transparência, estudos independentes e um debate público amplo sobre os riscos e benefícios dessa tecnologia. A saúde pública deve ser tratada com responsabilidade, priorizando soluções que respeitem o meio ambiente e os direitos da população.
Os resultados de longo prazo da liberação desses mosquitos ainda não são claros. Estudos independentes e acompanhamentos rigorosos da população e do meio ambiente são praticamente inexistentes. Assim, enquanto uma tecnologia experimental é aplicada em larga escala, a população torna-se parte de um experimento contínuo, sem direito a consentimento ou acesso pleno aos dados.
A reflexão é inevitável: até que ponto a pressa em combater uma doença justifica expor milhões de pessoas e ecossistemas a riscos desconhecidos? A saúde pública não deve se confundir com experimentação não transparente — e a sociedade tem o direito e o dever de exigir informações completas, resultados claros e responsabilidade das autoridades e empresas envolvidas.