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Curitiba passou a contar com biofábrica de Wolbachia e a expectativa é que ela produza até 100 milhões de ovos por semana de mosquitos infectados com a bactéria que impede a transmissão da dengue | Foto: Jerônimo Gonzalez / MS / CP |
Agora não é mais vacinas com seringas hospitalares e medidas santitárias no suposto combate a dengue. O Brasil acaba de inaugurar em Curitiba a maior biofábrica de mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia do mundo, com capacidade para produzir cerca de 100 milhões de ovos por semana.
O projeto, aplaudido por autoridades como o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, é apresentado como um avanço revolucionário no combate à dengue e outras arboviroses. No entanto, até que ponto estamos realmente diante de uma solução — ou, na verdade, de um experimento em larga escala disfarçado de tecnologia de saúde pública?
A chamada “tecnologia inovadora” consiste em infectar mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, que teoricamente ao liberar os mutantes na natureza ou cidades, impediria a transmissão de vírus como o da dengue, zika e chikungunya. A ideia parece promissora à primeira vista, mas ignora um histórico preocupante: diversas tentativas anteriores de liberar mosquitos modificados geneticamente resultaram em falhas, efeitos colaterais ambientais e até no agravamento da proliferação de doenças.
Em Teoria que nos fizeram acreditar: Os mosquitos que transmitem doenças são principalmente as fêmeas. Elas são hematófagas, o que significa que precisam de sangue para a maturação dos ovos. Quando uma fêmea do mosquito pica uma pessoa infectada, ela pode pegar o vírus da doença junto com o sangue. A fêmea precisa de sangue para a produção de ovos, e se o mosquito estiver contaminado, poderá transmitir o vírus ao eclodir os ovos.
Mosquitos modificados: uma promessa que já falhou antes
Não é de hoje que a ciência tenta “controlar” a natureza. A liberação de mosquitos geneticamente modificados já ocorreu em países como Brasil, Colômbia e Malásia. E os resultados não foram animadores. Um estudo publicado na Nature Scientific Reports revelou que, após a liberação desses mosquitos na cidade de Jacobina (BA), em 2019, houve recombinação genética com a população selvagem, criando uma nova linhagem de mosquito mais resistente — e potencialmente mais perigosa.
Outro exemplo preocupante ocorreu nas Ilhas Cayman, onde os mosquitos modificados da empresa Oxitec (financiada por Bill Gates) deveriam morrer após cruzar com mosquitos selvagens. No entanto, eles sobreviveram, se multiplicaram e causaram mutações inesperadas, frustrando completamente a premissa de “controle”.
Esses casos mostram que a interferência genética em espécies transmissoras de doenças está longe de ser uma ciência exata. Pelo contrário, os riscos são reais e amplamente subnotificados, especialmente para culturas agrícolas e equilíbrio de ecossistemas.
Financiamento internacional e o silêncio sobre consequências
O que chama a atenção é o financiamento por figuras como Bill Gates, cuja atuação em biotecnologia e vacinação tem gerado debates éticos em escala global. Gates é o maior investidor da Oxitec e um dos principais promotores da ideia de “vacinação aérea” ou como chamei no meu artigo passado "seringas voadoras" — com mosquitos transmissores de vacinas [ou pode ser uma doença também], como já sugerido em estudos e patentes.
Estamos diante de uma estratégia de saúde ou de um experimento genético global sob a bandeira da filantropia? Sabemos que eles vem silenciosamente liberando mosquitos em várias partes do país e no mundo, mas tudo que vemos são mais doenças e continuação de doenças que supostamente deveria erradicar.
A verdade é que nenhum estudo de longo prazo foi capaz de garantir que a liberação massiva desses insetos seja segura, tampouco há mecanismos públicos de controle ou reversão caso algo dê errado. Com o Brasil agora produzindo 100 milhões de ovos de mosquito mutante por semana, o país se torna, mais uma vez, um grande campo de testes biológicos — sem transparência nem debate público real.
Aumento de doenças, não a redução
Curiosamente, em cidades onde os mosquitos Wolbachia foram liberados nos últimos anos, os casos de dengue e outras arboviroses não diminuíram de forma significativa. Em alguns locais, inclusive, os surtos aumentaram. Isso levanta uma pergunta incômoda: até que ponto essa tecnologia está realmente funcionando? Ou estamos apenas criando uma nova forma de desequilíbrio, abrindo portas para doenças ainda mais complexas e mutantes?
Além disso, há relatos crescentes de impacto nas lavouras e nas cadeias alimentares de insetos polinizadores. Mexer com o elo dos mosquitos pode afetar todo o ciclo biológico que sustenta a vida no planeta, desde colmeias até a reprodução de plantas comestíveis.
Reflexão final: ciência ou arrogância biotecnológica?
O entusiasmo das autoridades e da mídia em torno da biofábrica em Curitiba ignora os sinais vermelhos que vêm se acumulando. Estamos nos deixando levar por uma narrativa de “salvação tecnológica” enquanto os dados reais mostram riscos, mutações, fracassos e um cenário de incertezas biológicas.
Em vez de investir bilhões em soluções invasivas e experimentais, por que não fortalecer estratégias naturais e preventivas, como saneamento básico, educação ambiental e uso de repelentes de origem vegetal? Por que os investimentos em saúde preventiva são sempre os últimos da fila?
O Brasil não pode continuar sendo laboratório genético global sem o devido escrutínio. Cabe a nós, cidadãos críticos, exigir mais transparência, mais estudos independentes e menos dependência de soluções tecnocráticas que mascaram riscos com promessas.