E-mails obtidos pela Daily Caller News Foundation mostram que, já em 2008, funcionários da Johnson & Johnson, fabricante original do Tylenol, estavam preocupados com o que acreditavam ser evidências confiáveis de uma possível ligação entre autismo e paracetamol. O FDA também estava ciente da ligação.
Novos documentos obtidos em processos judiciais sugerem que fabricantes do Tylenol e a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA estavam cientes há anos de uma possível ligação entre o uso do medicamento durante a gravidez e distúrbios do neurodesenvolvimento, incluindo autismo e TDAH. As informações vêm à tona em meio a debates crescentes sobre a segurança do paracetamol em gestantes e a transparência das indústrias farmacêuticas.
"O peso das evidências está começando a parecer pesado para mim", disse Rachel Weinstein, diretora de epidemiologia da divisão farmacêutica Janssen, da Johnson & Johnson, em um e-mail comentando vários estudos que mostram a ligação.
Evidências que Ficam Dentro da Empresa
Fabricantes de Tylenol 'acompanharam de perto uma batida de tambores de publicações científicas' mostrando ligação com o autismo
A Daily Caller News Foundation obteve e-mails de mais de uma década indicando que membros da empresa na J&J foram alertados sobre a possível ligação entre paracetamol e distúrbios neurológicos. Os e-mails mostraram que a J&J até considerou buscar mais pesquisas, mas decidiu contra isso.
A agência também obteve um e-mail de 2012 de Leslie Shur, chefe da divisão da J&J que monitora os efeitos colaterais, reconhecendo outra reclamação do consumidor sobre o problema, e um e-mail de 2014 mostrando que a questão foi levantada com o CEO Alex Gorsky, cujo nome está escrito incorretamente no e-mail.
De acordo com a jornalista Emily Kopp, que escreveu a história do Daily Caller:
"Os fabricantes do Tylenol acompanharam de perto uma série de publicações científicas que encontraram uma associação entre tomar o medicamento de grande sucesso na gravidez e na infância e o risco de autismo, mostram outros documentos da empresa.
"Uma apresentação interna de 2018 que a empresa rotulou de 'privilegiada e confidencial' reconhece que estudos observacionais mostram uma associação 'um tanto consistente' entre a exposição pré-natal ao Tylenol e distúrbios do neurodesenvolvimento.
"Outro slide de apresentação reconhece que meta-análises maiores - revisões resumindo vários estudos científicos - encontraram uma associação, mas observa fraquezas desses estudos, como variáveis confusas e subjetividade na medição de traços autistas."
Apesar das evidências crescentes, os documentos indicam que a empresa decidiu não financiar pesquisas adicionais para confirmar a ligação, possivelmente por receio de que os resultados confirmassem os riscos já observados.
FDA Também Monitora os Riscos
Relatórios internos do FDA, obtidos por meio de solicitações da Lei de Liberdade de Informação, mostram que a agência já realizava meta-análises desde 2019 sobre os efeitos do paracetamol em gestantes e crianças. Esses estudos identificaram potenciais riscos urogenitais e neurológicos em bebês expostos ao medicamento durante a gestação.
Em 2022, uma nova meta-análise interna do FDA reforçou a possível ligação entre o paracetamol e distúrbios como TDAH, recomendando que rótulos de produtos fossem revisados para alertar sobre esses riscos.
Kopp observou que o site da empresa também afirma que "dados científicos confiáveis e independentes continuam a não mostrar nenhuma ligação comprovada entre tomar paracetamol e autismo" e que "não há ciência confiável que mostre que tomar paracetamol causa autismo".
No entanto, ela descobriu que e-mails internos mostravam funcionários discutindo um estudo de 2018 e um estudo de 2016 que concluíram que as mulheres grávidas deveriam ser advertidas sobre os possíveis efeitos de tomar Tylenol durante a gravidez.
Ela também encontrou e-mails indicando que a J&J considerou financiar estudos sobre a possível ligação do Tylenol com o autismo, mas decidiu não "esticar o pescoço", preocupada que seus estudos pudessem confirmar as descobertas.
De acordo com Kopp no The Defender:
"A empresa também realizou uma pesquisa que descreveu como 'escuta social', rastreando pesquisas no Google e postagens de mídia social em busca de evidências sobre Tylenol e autismo de janeiro de 2020 a outubro de 2023.
"A empresa iniciou a pesquisa de tendências de mídia social após a publicação de 2021 de um apelo à ação sobre o Tylenol na Nature Reviews Endocrinology por 13 especialistas americanos e europeus 'à luz das graves consequências da inação'".
A empresa escreveu uma revisão de 2023, Project Cocoon, que relatou preocupações com os efeitos colaterais urinogenitais e neurológicos dos medicamentos em bebês, que os executivos observaram que tocam "todos os aspectos da marca", escreveu Kopp.
Pressão da Mídia e das Organizações de Saúde
Apesar dos alertas internos, a grande mídia e algumas organizações de saúde pública minimizaram os riscos, classificando os avisos como exagerados ou infundados. Cientistas que haviam publicado estudos indicando a ligação chegaram a recuar publicamente, gerando confusão sobre a segurança do medicamento.
O Que os E-mails Revelam
Entre os documentos obtidos, destacam-se:
- Um e-mail de 2012 da chefe da divisão da J&J, Leslie Shur, discutindo uma reclamação de consumidor sobre efeitos neurológicos.
- Um e-mail de 2014 no qual a questão foi levada à atenção do então CEO Alex Gorsky.
- Apresentações internas de 2018 descrevendo estudos que mostravam associação “um tanto consistente” entre exposição pré-natal ao Tylenol e distúrbios do neurodesenvolvimento.
- Além disso, a J&J realizou um monitoramento das tendências de mídia e redes sociais entre 2020 e 2023, rastreando publicações e discussões sobre Tylenol e autismo, e produziu relatórios internos, como o “Project Cocoon”, destacando preocupações com efeitos urinogenitais e neurológicos em bebês.
A Resposta das Empresas
Um porta-voz da Kenvue, que assumiu a produção do Tylenol em 2023, afirmou que “não há ligação causal entre o uso de paracetamol durante a gravidez e o autismo” e que o medicamento é “seguros e eficaz” quando usado conforme indicado.
No entanto, os e-mails internos contradizem essa narrativa, sugerindo que a empresa estava ciente de estudos mostrando riscos potenciais há mais de uma década, mas optou por não alertar o público.
Especialistas Alertam
O psiquiatra David Healy, que atua como especialista em um caso judicial contra Kenvue e Safeway, destacou a importância das revelações:
"O ônus de alertar não surge quando há causa e efeito claros, mas quando há motivos para pensar que pode haver um problema. As farmacêuticas têm responsabilidade legal de informar os consumidores quando sabem de riscos potenciais."
Novos Alertas no Horizonte
Recentemente, o FDA anunciou que adicionará advertências aos rótulos de produtos que contêm paracetamol, alertando sobre possíveis riscos neurológicos, incluindo autismo e TDAH. A agência também planeja informar médicos e o público sobre essas descobertas.
Enquanto isso, a controvérsia sobre a transparência das farmacêuticas e a segurança do Tylenol durante a gravidez continua, levantando questões sobre o equilíbrio entre lucro corporativo e proteção à saúde pública.
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