Remédio popular para diabetes aumenta risco de cegueira em quem já está em risco

Um estudo recente do mundo real acompanhou os resultados da visão antes e depois que os pacientes iniciaram o tratamento com tirzepatida.
Remédio popular para diabetes aumenta risco de cegueira em quem já está em risco

O desequilíbrio nos níveis de açúcar no sangue, característico do diabetes, afeta o funcionamento do corpo de diversas maneiras, podendo levar a desconfortos e doenças. Uma delas é a retinopatia diabética, uma condição que compromete a função visual e pode até resultar em cegueira.

Em meio à crescente popularidade de medicamentos como Mounjaro e Zepbound — indicados para diabetes tipo 2 e amplamente promovidos também para perda de peso — um novo estudo acende um alerta urgente: o uso da tirzepatida pode mais que dobrar o risco de cegueira em pacientes com histórico de danos oculares causados pelo próprio diabetes.

Publicado na revista científica Diabetologia, o estudo acompanhou mais de 6.800 pacientes com diabetes tipo 2. Entre aqueles que tomaram a tirzepatida, 1,1% desenvolveram retinopatia diabética proliferativa (PDR) — uma forma grave da doença que pode levar à cegueira. 

Em comparação, apenas 0,5% dos que não tomaram o medicamento evoluíram para esse estágio crítico. Pode parecer pouco à primeira vista, mas representa um aumento de 115% no risco.

Mais um remédio vendido como milagre, com riscos ignorados


Estamos falando de um medicamento que, ao mesmo tempo em que ajuda a controlar a glicemia, pode acelerar o colapso da visão em pessoas vulneráveis. Os dados mostraram que o risco maior ocorreu em quem já tinha lesões oculares leves — ou seja, justamente os pacientes que mais precisam de cuidado, não de mais complicações.

Mudanças bruscas no açúcar no sangue e danos nos olhos


A tirzepatida age reduzindo o açúcar no sangue de forma rápida, e isso parece estar ligado à deterioração da retina. Pesquisas anteriores já mostravam que quedas bruscas na glicose podem agravar doenças oculares — algo conhecido, mas muitas vezes ignorado no entusiasmo por soluções “rápidas” e “eficazes”.

No estudo, a maioria dos pacientes afetados apresentou piora em até 11 meses após o início do tratamento. Não é algo que leva anos. É quase imediato para quem já carrega um histórico ocular sensível.

Importância de monitorar a saúde ocular


Os resultados reforçam a importância de protocolos regulares de monitoramento oftalmológico para pacientes que iniciam a tirzepatida, particularmente aqueles com danos retinianos existentes.

Os pacientes com prescrição do medicamento devem ser instruídos sobre os primeiros sinais de alerta do agravamento da retinopatia diabética, disse Agarwal. Esses incluem:

  • Mudanças repentinas na visão
  • Manchas escuras ou sombras - também chamadas de escotomas - na visão central ou periférica
  • Flashes de luz, que podem indicar tração ou descolamento da retina
  • Distorção de linhas retas, o que pode sinalizar edema macular (inchaço)

As principais estratégias para prevenir ou controlar o agravamento da retinopatia em pacientes em terapias de redução da glicose incluem o controle do açúcar no sangue e dos lipídios e a redução gradual do açúcar no sangue para evitar quedas excessivamente rápidas na HbA1c - especialmente em pacientes com diabetes mal controlado de longa data, acrescentou Agarwal.

Sinais que não podem ser ignorados


Pacientes que usam tirzepatida devem ser monitorados com exames oftalmológicos frequentes. Mudanças súbitas na visão, manchas escuras, flashes de luz e distorções visuais são sinais de alerta. A ausência de sintomas não é garantia de que está tudo bem — os danos podem estar progredindo em silêncio.

A tirzepatida não é um vilão por si só. Ela tem, sim, seu papel no controle do diabetes. Mas é preciso responsabilidade: os riscos precisam ser conhecidos, acompanhados e debatidos abertamente com os pacientes, especialmente quando falamos de algo tão sério quanto perder a visão.

Infelizmente, em nome do lucro ou da corrida por soluções rápidas, muitas vezes se silenciam os efeitos colaterais. Como sempre, os mais vulneráveis pagam o preço.

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